Quando Jogos Mortais saiu, o auê criado em sua volta foi rápido e justificado: personagens em uma situação de pressão extrema e um vilão que figuraria entre os grandes do cinema. A trama altamente complexa e cercada de reviravoltas surpreendentes, renderam a Jigsaw uma cifra de mais de 100 milhões de dólares mundialmente, chegando a quase 100 vezes o orçamento do filme (de 1,2 milhões de dólares).
A continuação foi iminente e aconteceu em um tempo tão recorde quanto o primeiro, filmado em 25 dias e lançado apenas um ano após. O roteiro foi simplificado para dar lugar a mais sangue e mortes. Entre os que acharam que ficou melhor e os que rebaixaram o filme, o rebuliço foi igualmente grandioso, custando 4 milhões e rendendo mais de 87 milhões de verdinhas só nos EUA.
Eis que chegamos à terceira parte. Agora que pode conferir o resultado, a conclusão que se chega é que houve um retorno aos fatores que tornaram o primeiro filme um sucesso e que esta trilogia ficou de bom tamanho, concluindo com chave de ouro este primeiro ciclo de Jogos Mortais do maníaco Jigsaw. Digo primeiro ciclo porque Jogos Mortais 4 já foi anunciado e só Deus sabe pra onde a série vai agora.
Agora vamos ao roteiro: eu não vou entregar nada além do básico para não estragar a surpresa, mas se você não assistiu e não quer saber NADA sobre o roteiro, pare a leitura agora mesmo e acesse algum site mais interessante. Basta saber que é um filme muito bom para quem é fã da série e é recomendado que se tenha assistido aos dois filmes anteriores para pegar todas as referências e não ficar boiando enquanto a projeção acontece.
Bem, se você ainda está por aqui acho que já tenha assistido ou não se agüenta de curiosidade, então vamos lá, foda-se. Em Jogos Mortais 3 Jigsaw está em estado terminal devido ao tumor diagnosticado tempos atrás. Entretanto ele e sua pupila Amanda ainda tem tempo de fazer um último jogo, o maior e mais completo de todos eles.
A primeira jogadora é a doutora Lynn. Seu objetivo é manter o Jigsaw vivo ou então sua cabeça será detonada por sensíveis cartuchos de espingarda amarrada em um dispositivo, não muito confortável, em volta de seu pescoço. Mas claro que Lynn não terá que manter o homem vivo indefinidamente - o tempo é ditado pelo sucesso (ou insucesso) do segundo jogador chamado Jeff, um homem puto que procura vingança pelo atropelamento de seu filho pequeno. Em seu jogo, Jeff terá de passar por uma série de testes que poderiam mudar o nome do filme para Gincanas Mortais, envolvendo todos os envolvidos no acidente de seu filho.
Então o filme passa a alternar estas duas metades do roteiro, aparentemente sem ligação, com flashbacks e cenas dos filmes anteriores, contando mais da relação Jigsaw/Amanda entre outras coisinhas, que vou tomar a liberdade de não dizer.
Sobre as armadilhas, elas estão menos elaboradas e começam a faltar idéias, digamos "criativas", para que as mortes ocorram, dando destaque apenas para a última, onde o assassino do filho de Jeff tem seu fim. Entretanto o roteirista é esperto e deixa isso passar em branco com uma história sólida e calçada em reviravoltas nos aspectos humanos e psicológicos das personagens, o que faltou em Jogos Mortais 2 e tem de sobra no primeiro filme.
O roteiro também mantém uma boa ligação com os filmes anteriores, especialmente o primeiro, amarrando algumas pontas soltas e explicando melhor eventos que foram apenas sugeridos no primeiro filme.
Pois então existem duas classes de espectadores potenciais: os que gostaram mais do excesso de mortes e sanguinolência do segundo filme poderão se decepcionar com este terceiro, mas os que curtiram mais o que diz respeito aos conflitos de interesses do primeiro vão com certeza aclamar esta continuação, assim como eu.
Como de praxe o final é aberto, mas não menos elaborado e intrincado como os filmes anteriores. Entretanto não chega a impressionar tanto quanto antes, principalmente porque não existiam muitas revelações pendentes, já que no primeiro filme foi mostrado a verdadeira identidade do assassino, no segundo a identidade da cúmplice e o que sobra para o terceiro não causa o mesmo impacto. O que não significa que não seja surpreendente, mas fica evidente que não sobraram muitas alternativas para o roteiro e para o público sedento por outra revelação bombástica.
Outro erro é passar a personalidade de Jigsaw como um homem normal e que os atos de barbaridade a que submete suas vitimas são plenamente justificáveis, removendo seu bastão de vilão da história. O que não deveria acontecer, já que na minha opinião Jigsaw é um grande muthafucka.
A atmosfera continua tensa, soturna, escura (até demais) e a forma de Darren Lynn Bousman dirigir está começando a se tornar clichê: os cortes rápidos, a câmera rotativa e closes nos rostos angustiados das vítimas. Mas o que realmente causa um pouco de desconforto é o "resumo do filme" que acontece no final, assim como os anteriores, para mastigar a conclusão e que é totalmente desnecessária a não ser que você estivesse dormindo no sofá, o que eu duvido muito.
O elenco continua muito bom no saldo geral e Tobin Bell, mesmo com um Jigsaw debilitado, executa um trabalho digno de menção. Amanda foi finalmente "desbaranganizada" neste filme (basta comparar como está feia no primeiro e no segundo filme), mas sua interpretação soa um pouco forçada já que surpreendentemente é a personagem que sofre mais pressão psicológica do que muitas das vítimas de Jigsaw. A médica Lynn é a mais fraquinha, mas do outro lado da balança está Jeff como o atormentado, vingativo, bitolado e complexo pai.
No fim das contas Jogos Mortais 3 agrada bastante quem já era fã da série e fecha a trilogia de maneira respeitosa e que justifica os altos valores de arrecadação de bilheteria e seu sucesso. Como os produtores de bobos não têm nada já encabeçaram uma quarta parte que deve figurar nos cinemas em outubro, como já é costume. Ora, mas este terceiro filme já deu pinta que as idéias começam a terminar e como não haverá mais envolvimento do diretor Darren Lynn Bousman e do roteirista Leigh Whannell há uma grande chance de que a franquia desça ladeira abaixo.
Portanto se algum executivo da Lions Gate desavisado entrou por aqui, peço caridosamente que dêem um tempo para Jigsaw ou que pelo menos tomem um rumo totalmente diferente, já que este merece ser o fim da trilogia Jogos Mortais.
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2 comentários:
Filme bom, viu? É um filme que eu adoraria ter escrito. Nunca vou chegar a tal ponto. Me chateio...
E você está escrevendo bem pra caralho! Estou começando a ficar com inveja!
Estranhamente essa crítica está idêntica a do site "Boca do inferno".
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